1.4 Conciliação entre Vida Familiar
e Vida Profissional
O desafio de conseguir uma melhor conciliação
das responsabilidades profissionais e familiares constitui uma
faceta essencial das sociedades europeias. Neste processo sobressaem-se
duas vertentes: por um lado a inclusão equitativa das mulheres
no mundo do trabalho e por outro a responsabilização
dos homens nas tarefas domésticas.
Se por um lado se pretende prevenir os riscos de
exclusão das mulheres no mercado de trabalho, por outro
é cada vez mais notório o aprofundamento dos direitos
dos homens enquanto pais trabalhadores e a sua não exclusão
da vida familiar, por motivos laborais.
Assim no Plano Nacional de Acção para
a Inclusão 2002-2003, são feitas referências
específicas à necessidade de incluir na organização
social e na cultura das empresas a ideia de que a conciliação
da vida profissional e familiar é um direito e um dever
dos trabalhadores e das trabalhadoras, bem como uma responsabilidade
social das próprias empresas. E, por outro lado, desenvolver
a rede de serviços de apoio a crianças e a pessoas
dependentes e promover o apoio social complementar, tendo em vista
a facilitação do acesso à formação
e inclusão profissional dos diferentes membros do grupo
familiar.
As medidas propiciadoras de equilíbrio entre
vida familiar e vida profissional, na sua globalidade, requerem
o envolvimento de diversas entidades: o poder central, o poder
local, as empresas e demais entidades empregadoras, as associações
comunitárias, bem como as próprias famílias
e os respectivos membros, individualmente considerados. (M. Guerreiro,
2000).
A conciliação da vida profissional
e familiar é essencial para homens e mulheres e para a
sociedade de todas idades que influenciam e pela qual são
influenciados, assim as estratégias de conciliação
da vida profissional e familiar já não se dirigirem
exclusivamente às mulheres, mas percebe-se a família
como complexa na qual todos os seus membros desempenham papéis
afectivos e funcionais relevantes para a sobrevivência e
bem-estar daquele núcleo social.
O desenvolvimento
de iniciativas com vista a conciliar responsabilidades familiares
e profissionais de homens e mulheres poderá implicar proporcionar
escolhas numa gama de respostas como o trabalho a tempo parcial,
a flexibilidade de contratos, tempo e localização
do trabalho e a disponibilidade de estruturas de proximidade para
acolhimento de crianças e pessoas em situação
de dependência física, psíquica ou mental
[1]. Estas medidas têm proporcionado evoluções
progressivas, mas ainda não satisfatórias, quanto
ao aumento da incidência progressiva da actividade feminina, e
licenças de paternidade, teletrabalho, flexibilidade
de horários e outras organizações de trabalho
“family-friendly”.
Nos países industrializados
a família tem sido objecto de debates de política
social sob duas perspectivas. Por um lado que as mudanças
no comportamento individual e familiar estão a modificar
o modo com as sociedade se reproduzem; isto envolve mudanças
não apenas na estrutura etária da população
mas também muda a divisão sexual do trabalho, a
redistribuição intergeracional e de solidariedade
e o balanço entre necessidades e recursos de serviços
de apoio social. Por outro, a reestruturação do
sistema de protecção crescentemente implica a redefinição
dos campos entre responsabilidades familiares e governamentais,
redefinindo-se também as expectativas individuais e as
obrigações familiares [2] . (SARACENO,
1997: 81)
O aumento de mulheres no mercado de trabalho, especialmente
em países como Portugal cujo papel de cuidador das crianças
e dos familiares em situação de dependência
reverte tradicionalmente nas mulheres, é inegavelmente
central às questões de conciliação
entre as actividades/responsabilidades familiares e profissionais.
A tendência será cada vez mais criar
serviços de proximidade, de cariz doméstico, «pessoal»
(no sentido de GUERREIRO), que envolvam todos os elementos da
família, por forma a melhor responder às necessidades e
maximizar as capacidades de cada um. Pode-se afirmar que a conciliação
das responsabilidades familiares dos membros activos da família
com os seus compromissos laborais é um objectivo imediato
a atingir não sendo, no entanto, o único efeito
positivo na dinâmica familiar, especialmente se os meios
para atingir esse fim forem utilizados numa perspectiva de intergeracionalidade.
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