1.6 Proximidade entre Gerações
Tomando por centro a família, os vários papéis
de cada elemento caem em duas grandes categorias, que de forma
diferenciada afectam as relações familiares, e
são as intergeracionais (vertical) e intrageracionais
(horizontal) – existem maiores diferenças de idade
entre relações intergeracionais do que dentro
de uma mesma geração, ainda que não seja
sempre assim por exemplo, um sobrinho pode ter a mesma idade
que um filho, mas uma das maiores diferenças mais importantes
a considerar é que a intergeracional envolve pessoas
com diferentes contextos históricos vividos que determinam
diferentes expectativas e visões (cf. BEDFORD, 2000:
172).
As relações intrageracionais também têm
características únicas sendo as que mais notórias
são o estatuto equivalente destes elementos na família,
os momentos de aproximação serem talvez mais espontâneos,
logo talvez mais baseados no afecto e não tanto na obrigação
e por outro lado, as relações colaterais levarem
à congregação de mais parentes (irmãos,
primos, sobrinhos numa mesma família) (ibidem:173). Por
outro lado, os elementos intergeracionais são confrontados
com sistemas de valor, avanços tecnológicos, interesses
e experiências divergentes(idem). No entanto, este conflito
potencial poderá ser ultrapassado pela afectividade que
une os elementos das famílias, pela sua socialização
recíproca e influência de outputs no núcleo
familiar.
Jerrome (1993) avançando um quadro conceptual para a
análise de relações intergeracionais define
seis variáveis: a estrutura familiar (composição
do agregado doméstico, proximidade geográfica),
padrões de contacto (o volume tipo de interacção
entre os membros da família), afecto (sentimentos de
carinho e cuidado, percepção de proximidade),
consenso e similitude (a extensão de acordo ou desacordo
em atitudes e perspectivas), normas (percepções
do que deveria existir entre as gerações e responsabilidades
parentais e filiais) e finalmente troca de poder (o equilíbrio
entre os recursos de cada geração, o grau de troca e
apoio entre elas) – alguns destes factores foram incluídos
no módulo 1 “Inquérito às Famílias”,
na fase de diagnóstico do Projecto VIVER.
A temática da intergeracionalidade tem vindo a ser encarada
nas actividades dos equipamentos e serviços de apoio
social sob, pelos menos, duas perspectivas que demarcam igualmente
duas grandes tendências de acção: a primeira
de filhos adultos com os pais idosos e a segunda em termos de
netos e avós. O que é comum a estas visões
é o facto de serem apenas díades nas gerações
envolvidas, de serem pensadas no contexto de relações
de parentesco e de frequentemente serem mimetizadas entre populações-utentes
desses equipamentos e serviços – no entanto, é
possível encontrar mais-valias neste tipo de iniciativas
ainda que com a ressalva de que não existem ”receitas”
nos projectos sociais e estes terão de ser ajustadas
às necessidades e aspirações da comunidade.
Os princípios teoréticos da intergeracionalidade
definidos a priori para a execução do VIVER, incluem
estas visões mas excedem-nas ao delinear que:
»
A intergeracionalidade deve ser encarada como factor de promoção
da inclusão e solidariedade social e bem-estar das pessoas;
» As iniciativas
de promoção da intergeracionalidade devem privilegiar
as relações intrafamiliares e respeitar as dinâmicas
individuais, institucionais e sociais, não devendo consubstanciar-se
em acções de carácter pontual e artificial;
» Os projectos
para a intergeracionalidade devem partir da ideia-base de que
todos os elementos da família ou comunidade, independentemente
da sua idade e ou grau de dependência, são cidadãos
de pleno direito;
» As relações
intrageracionais e intergeracionais na família deverão
ser também percepcionadas à luz do enquadramento
jurídico em vigor, distinguindo-se claramente os papéis
de apoio económico, exercício de funções
de tutela/poder paternal e prestação de cuidados;
» No que
se refere especificamente às pessoas idosas, em situação
de dependência ou não, é fundamental
que seja assumida a sua autonomia essencial, entendendo-as como
elementos activos no seio do agregado familiar e das instituições
que frequentam;
» O papel
de prestador informal de cuidados pode ter um carácter
intergeracional no sentido de que, nomeadamente pessoas idosas
e jovens, podem assumi-lo no núcleo familiar ao qual
pertencem funcional e afectivamente;
» Vários
trabalhos e estudos europeus, e não só, na área
da intergeracionalidade nas famílias apontam para a
necessidade de reforçar laços não
apenas entre os adultos idosos e as crianças/jovens
mas implicar igualmente a «geração –sanduíche»
- os adultos pais/filhos – prevenindo, por um lado,
possíveis problemas relacionais entre estes e os seus
filhos e por outro, reforçando ou recriando a
relação daqueles com os seus ascendentes.
Adaptando as normas para o trabalho intergeracional,
definidas por Larkin [6], a estes princípios,
as competências dos profissionais que actuam na e para
a intergeracionalidade são sumariamente:
1. Usar conhecimento
sobre o desenvolvimento humano ao longo da sua vida e planear
e implementar programas eficazes para aproximar gerações
mais novas e mais velhas de forma a que lhes traga um benefício
mútuo;
2. Reconhecer as
necessidades e empregar uma comunicação eficaz
que suporte o desenvolvimento de relações intergeracionais;
3. Compreender e
demonstrar empenho em colaborar e formar parcerias;
4. Integrar
conhecimentos teóricos e instrumentos de várias
áreas relevantes incluindo psicologia, história,
animação sócio-cultural, literatura e artes
para desenvolver programas;
5. Aplicar técnicas
de avaliação ajustada dos campos de educação
e ciências sociais para informar o desenvolvimento do
programa para diversos grupos etários e contextos institucionais;
6. Ser
um profissional reflexivo e atento às pessoas sendo que
o seu propósito é o criar espaços e momentos
onde as pessoas de várias idades, com interesses comuns
possam estabelecer relações mutuamente benéficas
e satisfatórias.
A definição internacional de programas intergeracionais,
adoptada em Dortmund, em Abril de 1999, pontuou como características
essenciais para o sucesso de tais programas:
»
Demonstrarem benefícios mútuos para os participantes
das várias idades;
» Estabelecerem
novos papéis sociais e/ou novas perspectivas para os
participantes jovens e idosos;
» Envolver
múltiplas gerações tendo que incluir pelo
menos duas gerações não-adjacentes ou de
parentesco;
» Promoverem
consciencialização crescentes e compreensão
entre gerações mais novas e mais velhas e o aumento
da auto-estima para ambas;
» Abordarem
temáticas sociais e políticas relevantes para
as gerações envolvidas;
» Incluírem
elementos de planeamento de programas;
» Desenvolverem
relações intergeracionais.
O projecto VIVER pretende colaborar para a efectivação
destas orientações directamente, tentando cumpri-las
internamente na génese e evolução do projecto,
e indirectamente, por um lado, ao proporcionar conhecimentos,
posturas e instrumentos a profissionais da área social
que favoreçam a intergeracionalidade e, por outro, ao
providenciar meios financeiros às entidades que queiram
desenvolver iniciativas para o incremento das relações
intergeracionais na comunidade envolvente.
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[6] Vide agexted.cas.psu.edu/FCS/mk/Standards.pdf
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