Comunicações
livres
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Palestrante |
Natacha Lage |
Resumo |
O Modelo Relacional Dialógico
na Comunicação Familiar Intergeracional - Uma
breve abordagem
Os padrões de comunicação utilizados
pelas famílias não são, muitas vezes,
os mais adequados para lidar com os idosos, de forma a facilitar
a integração destes no agregado familiar, o
que, por si só, pode contribuir para uma facilitação
da conciliação entre a vida familiar e o trabalho.
Pretende-se com esta comunicação demonstrar
de que forma a comunicação entre os vários
membros de um agregado familiar intergeracional pode contribuir
para a integração dos idosos nesse mesmo agregado,
de acordo com o modelo relacional dialógico.
Devido a diversos factores de ordem social e económica,
motivados pelo fenómeno da revolução
industrial, a migração, a emigração,
etc., o anterior conceito de família alargada, composta
por vários elementos pertencentes a diversas gerações
em convivio e coabitação na mesma residência,
foi substituido pelo actual conceito de família nuclear,
em que apenas duas gerações (pai, mãe
e filho(s)) convivem e coabitam na mesma residência,
encontrando-se os idosos a residir sozinhos e os adultos a
fazer um forte investimento profissional, para garantirem
a sua subsistência e a dos seus descendentes.
O conceito de “família” tem diversas definições,
de acordo com diversos autores, variando até mesmo
de acordo com o mesmo autor. Refiro aqui duas dessas definições,
do mesmo autor, apenas para demonstrar a heterogeneidade deste
conceito:
1. Família enquanto conjunto de parentes, vivos ou
mortos, que partilham uma história, uma reputação,
um património. (Segalen, 1999)
2. Família enquanto grupo de indivíduos que
partilham o mesmo espaço residencial, unidos pelos
laços do casamento e/ou filiação. (op.
cit.)
Considerando o conceito formal de família enquanto
um grupo de pessoas que partilham o mesmo espaço residencial,
unidas pelos laços do casamento e/ou filiação,
o actual conceito de família nuclear, e o que já
foi dito relativamente ao facto de a nossa sociedade actual
impor um forte ritmo de investimento profissional, compreende-se
que os adultos de hoje enfrentem sérias dificuldades
quando decidem acolher os seus idosos nas suas casas e, consequentemente,
no seu agregado familiar. Não devemos também
esquecer que cada um dos elementos que compõem o agregado
familiar tem um determinado tipo de estrutura de personalidade,
já definida, no caso dos adultos, ou ainda em formação,
no caso das crianças e dos adolescentes, que vai condicionar
a forma como cada um sente e gere as suas relações
com os restantes membros do agregado familiar e com a sociedade
em geral.
Sem entrar aqui na explicação e discussão
dos diferentes tipos de estruturas de personalidade, gostaria
de abordar algo que está na origem de todas essas estruturas
e do modelo relacional-dialógico, (da autoria de Maria
Rita Mendes Leal, com base nas teorias de S. Freud, Winnicott,
Melanie Klein, Sullivan, Bion, e outros autores), e que é
inato em todos nós; refiro-me aos padrões fixos
de acção, descritos por J. S. Watson, em 1967.
Estes padrões fixos de acção são
observáveis, no ser humano, desde os primeiros dias
após o nascimento, por exemplo, quando o bebé
sorri, chora, emite um som, etc ., e aguarda que a mãe
lhe dê uma resposta; de acordo com o modelo relacional
dialógico, isto significa que o bebé toma uma
iniciativa, e aguarda que a mãe lhe dê uma resposta
a essa iniciativa, de preferência, adequada à
mesma, ou seja uma resposta que, do ponto de vista psicofisiológico,
seja contingente, que lhe dê prazer. Se tal acontecer,
o bebé irá tomar uma nova iniciativa, ficando
novamente à espera de uma resposta adequada da mãe
a essa nova iniciativa, e assim por diante, assumindo aqui
a mãe o papel de um cuidador válido, ou seja,
que é capaz de dar respostas contingentes às
iniciativas do bebé.
É esta continuidade de A-B / A’-B’ / A’’-B’’
que constitui o padrão fixo de acção
para o ser humano definido por J. S. Watson. Se pensarmos
um pouco, percebemos que há um tempo de latência,
uma pausa, entre a iniciativa e a resposta à mesma;
é esta pausa que determina o estabelecimento de um
diálogo, de um intercurso relacional entre os intervenientes.
(Leal, 1999)
O ser humano tem também a capacidade de analisar a
contingência à própria iniciativa, ou
seja, de reconhecer se a resposta que é dada à
sua iniciativa é ou não adequada à mesma.
Se o bebé, ao ter iniciativas, não obtiver resposta
às mesmas, ou a resposta obtida não for adequada/contingente,
ele irá ter cada vez menos iniciativas, até
que, eventualmente, deixará de ter qualquer tipo de
iniciativa, assim como o adolescente, o adulto, e os idosos.
(Leal, 1997, 1999)
Ao transpormos isto para um determinado agregado familiar
composto por três gerações (avós,
pais e netos), temos que, do ponto de vista do idoso:
Na maior parte dos casos, numa estrutura familiar deste género,
o que acontece é que o idoso, principalmente se já
tiver um certo grau de dependência, passa o dia em casa,
tendo muito poucos ou nenhuns contactos sociais; os adultos/filhos
passam os dias nos empregos, onde convivem com os colegas
de trabalho; e as crianças ou adolescentes/netos passam
os dias na escola, onde convivem com os colegas e professores.
Enquanto os adultos e as crianças passaram o dia no
emprego ou na escola, onde satisfizeram as suas necessidades
de convívio social, o idoso passou o dia em casa, sozinho...
e tem necessidade de, também ele, satisfazer as suas
necessidades de relação com os seus familiares,
quando estes regressam a casa no final do dia.
Assim, quando os filhos ou netos chegam a casa, o idoso vai
ter uma iniciativa, ou aguardar por uma iniciativa destes,
por exemplo, perguntando ao filho como é que lhe correu
o dia, e vai ficar à espera da resposta do filho a
essa iniciativa, que pode ser adequada, inadequada, ou nem
sequer existir; o idoso vai então analisar a resposta
do filho à sua iniciativa, e consoante esta análise,
e o prazer/desprazer que dela resultar, vai continuar a ter
iniciativas ou não...
Obviamente, os vários tipos de comunicação
utilizados pelas famílias são interiorizados
durante anos, e são algo que não se consegue
mudar repentinamente, mas depreende-se que, consoante haja
ou não contingência de forma sistemática
no seio da família, maior ou menor será o grau
de satisfação e de integração
dos vários elementos do agregado familiar – se
um idoso, quando toma uma iniciativa em relação
a um filho, neto, nora, genro, etc., obtiver, por norma, uma
resposta adequada, que lhe dá prazer, ele sentir-se-á
mais satisfeito e integrado na família, porque esta
é contingente para com ele, mesmo que ocasionalmente
receba uma resposta inadequada.
Mas como numa relação dialógica há
o dar e há o receber, para que a família seja
contingente para com o idoso, também este tem de ser
contingente para com a família; um exemplo desta situação
é o seguinte: a família combina ir dar um passeio,
e integra o idoso nesta actividade, uma vez que ele faz parte
da família; no entanto, o idoso rejeita esta ideia,
alegando que tem dificuldades de locomoção;
ao fazer isto, o idoso não está a dar uma resposta
adequada à família, uma vez que esta já
sabe que ele tem dificuldades de locomoção e
mesmo assim inclui-o no passeio, porque a sua companhia seria
uma fonte de prazer para a família; ao tomar este tipo
de atitude por diversas vezes, o idoso está a dar respostas
não contingentes de forma sistemática, o que
fará com que, mais tarde, a família passe a
planear os seus passeios e saídas sem incluir o idoso
nas mesmas.
Um outro aspecto a considerar na convivência com idosos
é o facto de que estes apresentam, na maior parte dos
casos, uma lentificação/diminuição
das suas capacidades, nomeadamente a nível cognitivo
(Zimerman, 2000), pelo que, em determinadas situações,
necessitam de um período de latência um pouco
mais longo para darem resposta às iniciativas dos outros,
que, muitas vezes, por não terem conhecimento deste
facto, entendem essa demora na resposta como uma não
resposta; noutras situações, a resposta do idoso
a determinadas iniciativas da parte dos outros pode não
ser a mais adequada, também devido à diminuição
e/ou lentificação das suas capacidades, o que
deve sempre ser tido em conta quando se lida com idosos.
Conclusão:
Se considerarmos o convívio familiar intergeracional
de acordo com o modelo relacional-dialógico, é
possível perceber o porquê de tantos idosos,
embora coabitando com as suas famílias, não
se sentem como uma parte integrante das mesmas, sentindo-se
sós, com uma fraca auto-estima, e quadros depressivos
de maior ou menor intensidade – ao não se aperceber
da necessidade que o idoso tem, como qualquer outro ser humano,
de receber respostas contingentes às suas iniciativas,
a família acaba por, muitas vezes sem se dar conta,
votar o idoso ao isolamento, embora vivendo na mesma casa... |
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Palestrante |
Teresa Sarmento |
Resumo |
Os prolongamentos de
horário nos jardins de infância da rede pública:
que conciliação entre o trabalho das famílias
e a vida das crianças?
No percurso histórico da educação de
infância em Portugal, foi criada em 1978 a rede pública
de jardins de infância, com um horário de funcionamento
de 5 horas diárias e com uma intencionalização
eminentemente pedagógica.
Cedo se verificou a incompatibilidade deste horário
com os ritmos familiares, o que redundou quer no encerramento
de muitos jardins de infância, quer em pressões
sociais no sentido de encontrar soluções conciliatórias
entre o funcionamento da educação de infância
pública e a resposta a necessidades das famílias.
Nesse sentido foram criados os prolongamentos de horário,
também designados de serviços de apoio às
famílias ou componente social.
Em 1999 deu-se então a implementação
destes serviços o que gerou correntes de (in)satisfação
diversas, umas de grande agrado – das autarquias e dos
pais –, outras de grande desagrado - das educadoras
de infância. Em termos imediatos, a primeira corrente
fundamentava-se na criação de mais um serviço
à comunidade e do seu usufruto como resposta à
necessidade de ver os seus filhos acompanhados em horário
em que os pais continuam a trabalhar; a segunda corrente apontava
a pouca clareza da tutela e da gestão pedagógica
dos serviços, antecipando receios sobre o funcionamento
dos mesmos.
Ao fim de três anos da sua implantação,
os dados recolhidos sobre o funcionamento dos mesmos obrigam-nos
a reflectir nesta problemática, tendo por foco de análise
a qualidade de vida das crianças nesses tempos e nos
espaços em que eles se desenvolvem |
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Palestrante |
Fosca Nomis |
Resumo |
Réseau. Femmes
et formation en réseau.
L’experience d’un réseau européen:
une bonne pratique et une strategie pour le future.
Le projet Réseau – financié par le Fond
Sociale Européen, Régione Autonome Vallée
d’Aoste - est issu de l’exigence de créer
des instruments et des méthodologies de formation permettant
aux femmes du territoire de la Vallée d'Aoste d'acquérir
un professionnalisme adapté aux besoins actuels et
futurs, afin de faciliter leur insertion dans le monde du
travail et de favoriser la progression de leur carrière.
Il a été décidé, en particulier,
de procéder à une recherche pour définir
les stratégies de formation capables de mettre en valeur
le potentiel féminin. Effectuée par le réseau
transnational des partenaires de Réseau qui ont contribué
à sélectionner et à donner de la visibilité
aux bonnes pratiques en matière de politiques d'égalité
des chances, cette enquête a permis de construire une
“banque de bonnes pratiques” d'égalité
des chances dans le domaine des politiques de formation, sa
nouveauté et son efficacité résidant
précisément dans le fait d'être un réseau.
La recherche de bonnes pratiques fournira aux opérateurs
de la formation des indications utiles pour insérer
dans leur propre programmation de formation les objectifs
de l'égalité des chances, ainsi que des instruments
méthodologiques pour les mettre en œuvre et les
évaluer. Pour vérifier si les méthodes
utilisées correspondent effectivement à l’objectif
d'égalité des chances entre les hommes et les
femmes, l'on a utilisé les paramètres d'évaluation
d'impact de genre adoptés dans la programmation des
Fonds Structurels et définis dans le document V.I.S.P.O.
(Evaluation d'Impact Stratégique de l'Egalité
des Chances) – redigé par le Department d’Egalité
des Chances de la Présidence du Conseil des Ministres
- dont les indicateurs sont
- l'amélioration de l'accessibilité des femmes
au marché du travail et à la formation,
- l'amélioration des conditions des femmes au travail
et la redistribution du travail de soins,
- la promotion de la participation des femmes à la
création d'activités socio-économiques,
- l'augmentation de la participation des femmes aux lieux
de décision. |
Palestrante |
Fernando Ilídio Ferreira |
Resumo |
Educação
e Desenvolvimento Local: A questão da igualdade de
oportunidades no mundo rural
A presente comunicação baseia-se num trabalho
de investigação de âmbito de Doutoramento
que o autor está a concluir na Universidade do Minho.
O trabalho tem como principal objectivo estudar as políticas
e práticas sociais e educativas que ao longo das três
últimas décadas têm vindo a convocar o
envolvimento e a participação dos actores locais
para a resolução dos problemas cada vez mais
complexos e difíceis de resolver das nossas sociedades.
Neste período, o local tem sido objecto de um interesse
crescente, em termos políticos, sociais e científicos.
É disso exemplo a proliferação de diversas
noções, como autonomia, participação,
comunidade, contrato, projecto, parceria, assim como a emergência
de políticas e práticas de gestão local
da escola, de desenvolvimento comunitário, de rede
e parceria entre serviços, instituições
e profissionais dos campos da educação, saúde
e serviço social. Este interesse é aqui analisado,
numa perspectiva sociológica, procurando-se compreender,
do ponto de vista teórico e empírico, o que
revela e o que esconde tal fenómeno.
Este fenómeno não é novo, pois corresponde
a um ressurgimento do nível local após este
ter estado abafado pelo nível nacional-estatal durante
quase dois séculos. O que é novo no período
recente é o facto de este fenómeno de re-localização
ocorrer em simultâneo com a crise do Estado-providência
e com a emergência do fenómeno de globalização.
Neste contexto, o estudo das dinâmicas locais não
pode ignorar as várias dimensões – local,
nacional, global e, no nosso caso, da União Europeia
– que se cruzam e manifestam no nível local,
de um modo mais complexo do que anteriormente.
Na sua dimensão empírica, o trabalho de investigação
desenvolve-se num concelho rural do Norte do país e
o método utilizado é o estudo de caso etnográfico.
A pesquisa incide em dois tipos de dinâmicas locais
que se têm vindo a desenvolver no concelho desde a década
de 80 e põe em confronto lógicas muito distintas
de desenvolvimento local. No primeiro caso, analisa-se a génese
e o desenvolvimento de uma Instituição Particular
de Solidariedade Social (IPSS), cuja actividade principal
é a educação de infância, mas que
tem a particularidade de abranger as localidades mais isoladas
do concelho, de integrar as dimensões educativas e
sociais e de conferir às crianças uma função
de mediação em processos de animação
e de desenvolvimento comunitários. No segundo caso,
analisa-se uma dinâmica conduzida pelos professores
e pela autarquia municipal, que culminou recentemente com
a decisão de concentração de todas as
crianças do concelho que frequentam o ensino primário
e algumas que frequentam a educação pré-escolar
num único edifício escolar localizado na Vila,
com o consequente encerramento com o consequente encerramento
de todas as pequenas escolas rurais das freguesias.
O cotejo entre estes dois tipos de dinâmicas exprime
a complexidade das lógicas de acção local
e a diversidade de concepções de desenvolvimento
que lhes subjazem. Enquanto que no primeiro caso as dinâmicas
locais se desenvolvem numa lógica de proximidade e
de solidariedade com o mundo rural, contribuindo para a sua
sobrevivência e para o seu desenvolvimento integrado,
no segundo caso elas são alimentadas pelos mitos da
homogeneidade e da concentração e influenciadas
por uma concepção urbano-industrial de desenvolvimento
e por uma agenda das reformas educativas dos anos 80-90 que
tem sido dominada por uma lógica de racionalização
e de modernização.
Com base neste estudo, reflecte-se sobre estas lógicas
e sobre as concepções de igualdade de oportunidades
que têm subjacentes, tendo em conta, particularmente,
a especificidade dos espaços rurais de hoje. Nestes
espaços é possível observar, actualmente,
sinais de modernidade que se misturam com sinais de pré-modernidade
e de pós-modernidade. Com efeito, muitos municípios
têm vindo a desenvolver um trabalho de criação
de infra-estruturas – luz eléctrica, água
e saneamento, estradas, pólos industriais, centros
culturais, etc. – tendo em vista a criação
de condições de modernidade nos seus concelhos.
Mas quem observa estas regiões “por dentro”
depara-se com profundos contrastes. Na presente investigação,
deparou-se com várias casas de aldeia compradas e recuperadas
por pessoas das grandes cidades para passarem férias
e fins de semana – um sinal dos novos estilos de vida
da “pós-modernidade” – situadas paredes
meias com habitações sem casa de banho, sem
água e saneamento, sem luz eléctrica, com o
piso interior da habitação em terra batida,
com o frio e a chuva a cair dentro de casa, numa demonstração
viva de “pré-modernidade”.
As escolas também espelham estes contrastes. Actualmente,
no concelho onde se desenvolveu o estudo, como noutras zonas
rurais do país, todas as escolas primárias estão
equipadas com computador e com ligação à
Internet, permitindo aos alunos e professores “viajarem”
pelo mundo, mas este cenário contrasta com a degradação
das condições físicas das instalações
e do equipamento escolares, com as condições
de pobreza de populações que se dedicam à
agricultura de subsistência, com a existência
de pessoas, sobretudo idosas, que vivem em redor da escola
mas que não sabem ler nem escrever.
Muitos dos problemas que enfrentamos hoje são, portanto,
caracteristicamente modernos, mas não há para
os mesmos soluções modernas. Não obstante,
os discursos sobre o mundo rural continuam a ser predominantemente
dominados por uma ideologia da modernização
e por uma concepção urbano-industrial-produtivista
de desenvolvimento. Como as zonas rurais não se encaixam
nesta concepção, tendem a ser descritas em termos
de crise, perda, declínio, atraso, degradação,
empobrecimento, envelhecimento, isolamento, abandono, desertificação,
desvitalização, revelando uma leitura “pela
negativa”, carencialista e desvalorizada, dos territórios
e das populações rurais. Sendo encaradas como
atrasadas face ao modelo urbano-industrial de desenvolvimento,
é defendido frequentemente nesses discursos que as
regiões rurais caminhem na senda desse modelo.
É paradoxal, no entanto, que este modelo continue a
servir de referência para o desenvolvimento do mundo
rural numa sociedade actual dita “pós-industrial”
e num período em que o próprio modelo urbano
tradicional tem dado sinais de uma profunda crise, obrigando
à definição de políticas de “urgência”
para as cidades, para fazer face aos problemas dos bairros
degradados, do ambiente, do ordenamento, do trânsito,
da segurança.
Com esta concepção produtivista convivem outras
concepções de desenvolvimento rural, assentes
nas ideias de “conservação” e de
“preservação”, mas que tendem a
produzir representações do mundo rural mais
orientadas para o passado do que para o futuro. Por exemplo,
o “rústico” e o “típico”
têm vindo a ser valorizados como características
importantes das zonas rurais, mas em grande medida considerando-as
como apêndices dos novos estilos de vida urbanos. Acontece,
porém, que a transformação dos espaços
rurais em meras “reservas” ou “museus”,
para corresponder a uma paixão bucólica de fim
de semana revelada pelas gentes das cidades, não constitui
um factor de desenvolvimento rural, pois desse modo tende
a ser negado às populações locais o estatuto
de cidadãos activos e sujeitos do seu próprio
desenvolvimento. Ademais, uma ideia do mundo rural orientada
apenas para o passado pode condenar as populações
rurais a viveram à margem do seu tempo, sem condições
habitacionais, de trabalho, de comunicação,
de cultura e de lazer. Para que as pessoas que lá vivem
possuam essas condições, é necessário
pensar o mundo rural em termos de futuro, considerando-o não
apenas “visitável”, mas também “habitável”.
Argumenta-se, pois, que o desenvolvimento das regiões
rurais não pode continuar a subordinar-se a uma mera
aplicação do modelo urbano-industrial-produtivista,
o qual já deu provas de estar esgotado, assim como
não pode continuar a basear-se numa concepção
de igualdade encarada como sinónimo de uniformidade.
É necessário encarar o mundo rural numa perspectiva
de diversidade e de futuro, o que implica promover políticas
sociais e projectos de desenvolvimento local integrados –
nas vertentes da educação, formação,
emprego, saúde, ambiente, acção social,
etc. –, nos quais as populações sejam
consideradas participantes activos, numa lógica de
cidadania e de empowerment, e não como figuras de museu,
tratadas e preservadas apenas para fins turísticos. |
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Palestrante |
Maria Corália Alves de Paiva |
Resumo |
Famílias, Idosos, Instituição:
Registos de um atendimento
O aumento da esperança de vida e o crescente número
de pessoas de idade avançada são actualmente
um desafio para as famílias e para os serviços
e equipamentos sociais. Esta comunicação tem
por objectivo abordar as relações família-idoso
num contexto social em mudança; questões de
autonomia e dependência do idoso; o acesso a serviços
sociais de apoio; as dificuldades de obtenção
de respostas adequadas. Refere-se por último a urgência
de discutir as dificuldades concretas das famílias
e os interesses e necessidades das pessoas idosas. |
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